quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

"Mais que fazer campismo, o escuteiro deve acampar"

Decidi neste post divulgar um texto que encontrei numa pagina escutista sobre a essência do acampar escutista.
Leiam e reflictam pois esta muito bom.

O porquê do mato

Recuemos pouco mais de um século.
Até uma altura em que Lord Baden-Powell (BP) sente aquela necessidade de fazer algo pelos jovens ingleses, que começavam a parecer perdidos e sem destino, altura em que inventa o escutismo.
Estamos a falar de uma pessoa que há-de ter vivido grande parte da sua vida no mato, por necessidade profissional, e que aprendeu a viver nele, acabando por se sentir tão em casa debaixo de uns pinheiros como no conforto do sofá da sala.
Ora BP sabe que o seu método funciona, que é eficaz enquanto método educativo, porque permite ao jovem ensaiar modelos de sociedade ao mesmo tempo que é senhor de criar as suas próprias aventuras.
Mas porquê arrastar os jovens de um meio que lhes é familiar e confortável para um meio inóspito, perigoso, desconfortável e muitas vezes longe de casa, obrigando a viagens caras e longas?
Porque conhecia a rotina de campo, e sabia que não é possível viver na natureza sem um esforço contínuo, sem uma aprendizagem constante, e sem um trabalho de equipa, em que cada um cumpre a sua função para o bem comum, e que esta última rotina tem resultados imediatos.
Se há um que falha em recolher lenha, ninguém almoça, se há um que tarda em buscar água, todos passam sede, não é possível o ócio num acampamento de escuteiros, pela própria natureza da actividade.
A vida em campo torna-se assim não só um meio em que está mais desperto o imaginário da aventura, mas em que o trabalho de equipa, e o esforço individual nesse sentido, não é apenas uma opção, mas uma necessidade imperativa cujas consequências são graves e imediatas.
Desde a ginástica matinal ao acordar, para evitar as lesões do esforço que começa cedo, apanhar, separar e rachar lenha para o dia, fazer fogo para o pequeno-almoço, lavar loiça, roupa, arejar e arrumar o campo, tratar da higiene, encontrar, preparar e confeccionar o almoço e o jantar, e pelo meio fazer todos os instrumentos e comodidades para a vida em campo, todas estas pequenas tarefas se tornam de uma importância tremenda.
O simples acto de viver em campo é dos melhores meios de desenvolver o carácter de um jovem.
Voltemos aos dias de hoje.
A rotina de campo mudou muito.
Os mesmos do costume tiram o material do carro dos pais e montam rapidamente a tenda de 3 segundos em qualquer lado para irem a correr fazer um dos jogos que o chefe levou a semana anterior a preparar.
Depois os mesmos de sempre ligam o gás e num instante confeccionam qualquer coisa que o pai comprou no supermercado na véspera, de preferência uma das receitas do costume, para que no fim aos outros toque o “castigo” de ir lavar a loiça com o habitual ar contrariado de quem está a fazer um frete.
E rápido, que depois de almoço temos outro jogo, para evitar que o ócio os leve a actividades menos adequadas. O fogo de conselho foi substituído pela festa de campo, onde em vez de experiências e conselhos se trocam anedotas, peças cómicas e umas carícias com a namorada, até chegar a hora de ir mandar SMS’s para os amigos no chão frio e duro da tenda para os amigos virtuais.
E, pergunto-me, para que é que o chefe andou a queimar tanta pestana a preparar jogos noites de semana dentro, em intermináveis reuniões de equipa, quando o campo teria feito todo o trabalho educativo por ele, se apenas os deixasse acampar em vez de fazer campismo?
A vida em campo é a essência do escutismo, e urge que o chefe escuteiro volte a dominar a arte do mato, para que o possa ensinar aos seus escuteiros.
Não existe escutismo se ao moço não é dada a oportunidade de sofrer e aprender com isso, de passar pelas amarguras de uma noite fria com os companheiros como única fonte de calor, de falhar e aprender a assumir a responsabilidade pelos seus erros perante os pares.
Mais que fazer campismo, o escuteiro precisa de acampar.
Fica a reflexão.
Vêmo-nos no mato.

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